Canto o desencontro...
dos pés...
sustendo as pernas a passo,
tacteando as nervuras do chão,
e que alongados no espaço
me riscam a direcção.
E se de algum eu me esqueço,
para evitar um tropeço
contorcem-se sobre a calçada,
mantendo-me equilibrada.
Canto o desenlace
das mãos…
pelos braços articuladas
em volutas de afinidades
e que juntas ou separadas
gritam mil actividades.
Com punhos fechados, em força,
ou num gesto em que se torça,
desatam-me os nós com perícia
ou inventam-se uma carícia.
Canto o desembaraço
do tronco...
que a todos estrutura e une.
Por tractos ocultos reúne
alimento, asseio, respiração,
o estralar de um coração.
É ele que me curva e levanta,
que me define a postura,
soltando expressões na garganta
de vento vibrado em clausura.
Canto o desencadear
da mente…
que me extravasa a cabeça
atenta à multidão de sentidos.
Recolhe-os no mundo e alicerça
outros novos ou reconstruídos.
Muitas vezes não se cala
e mói-me o juízo, a despique.
Rodopia, a minha psique,
e é preciso acalmá-la.
Canto o desencosto
dos dias…
que quebraram o feitiço,
de uma dor firme, em tortura,
traçando pelo corpo o esquiço
das sendas para a sua cura.
Porque hoje há, em cada hora,
um riso que volta e comemora
a acção presente, incontida,
da energia pura, desen... vol... Vida.08.2015