12 de fevereiro de 2024

Feriado

O tempo livre da manhã cedo
ping
a
do beirado alaranjado 
de telhas de meia cana
ping

porque molha tolos
por entre o café quente
do feriado enrolado
à janela fria que
pin
ga 
quieto a ver a luz nos prismas
das pin
gas
que agarram a paz do dia intacto 
São pin
gas de inverno
que então me acordam
porque decidem
pingar
potenciais e ideias 

Resisto já sem café 
mas os cenários do dia
pingam pingam
mais pesados
descaem-se do céu nervosos
pinga pinga pinga
O que vais fazer?
Como vais aproveitar 
antes que acabe?
pinga pinga pinga pinga
Isto mais isto ou aquilo
pinga pinga pinga pinga
aqueloutro e mais três 
pinga pinga pinga pinga
O dia é livre tudo é possível 
pinga pinga pinga pinga
Que ampulheta é esta
que me chove cá dentro?
É tortura chinesa
Já não se pode estar só
sossegado?

Pinga pinga pinga pinga 
Pinga pinga pinga pinga

Pronto, está bem, já fui.


7 de janeiro de 2024

Cisterna

Tudo o que não
fiz
acelera
somado a tudo o que fiz
mal feito
e atravessa-se à minha frente
e atropela-me certeiro
o peito
Nem o banco de jardim
me salvou do camião -
- cisterna
 

mergulho
na sua profundidade

escura

07.01.24 

29 de dezembro de 2023

(Diz) Farsa, Origem da Alma



 Estava eu a pesquisar no Google este blogue, para aceder mais depressa e topei com esta música que não conhecia, com um título muito familiar 😁. 
Ouvi e adorei o som, o peso, a letra. Que descoberta fixe hoje. Por isso trago-a para aqui para junto das outras farsas, disfarces e coisas que são ditas. Grande som e letra🤘😁 

27 de dezembro de 2023

Sacode

O medo traz muitos olhos
a espreitar dos cantos
a insegurança e os perigos
Mas quando se fixa
como ângulo de visão 
torna-se os olhos de ler a vida
e deturpa a luz 
como mágoa 
gelatinoso, azedo, arrastado,
ou exuberante aos gritos
Deturpa até as sombras
povoadas de "ses"
e relê toda a estória 
O medo filtra as papoilas
o ritmo das borboletas
e escoa a dor
para a chávena de beber certezas
cheias de razões 
deitando as borras no lixo
Quando o medo se fixa
e o medo são olhos vesgos
e o medo entupiu os filtros
é inútil 
estragou-se
está na altura de o desencravar
de deslocar os ângulos
agitar tudo
e olhar por outro prisma
Sacode!

28.12.23 

9 de dezembro de 2023

Bétula Branca

Ensinaste-me na Serra a escrever 
na casca da Bétula Branca
Mais tarde ofereci essa ciência ao Amor
e com surpresa ele aprendeu
Foi por isso que recebi as Cartas das Cascas 
que guardo numa gaveta
Por causa de ti e de ti que não se amavam
Por causa de mim que amava os dois
Por causa da Bétula Branca 
e dos seus costumes na Serra

Ainda bem que não me ensinaste a fazer chá 
A Bétula Branca tinha perdido as palavras
e eu o encanto com que lhe toco

um encanto a segredar por trás das cascas

9.12.23

27 de novembro de 2023

O espelho: Artifício interligado

Off/ On
macaco de imitação
gerador de criação
Sem pulso/ Impulso
diferença de potencial
com potencial na diferença 
Máquina/ Humana
artifícios interligados
por universos de dados
Alexa/ Ana
Siri ou Cortana servem,
sem ser à mesa, os Senhores
Chatbots/Operadores
precisos eletrões em dança
a linguajar nos corredores
Neurais/ Neurónios
por redes fundas a disparar
sinapses com alvo ao futuro
Chat GPT/ tanto a ler
só porque uma vez explodiu
um espelho na casa de Turing
É lógico/ às vezes
e pouco depois Macarthy IA
precisar de pentear as barbas
É Reflexo/ Real
da libertinagem de zeros e uns
na tela plana, espectro de luz
Algoritmos/ Alimentos
Digeres assim, DABUS?
Veremos
e entretanto a bolsa engorda
da cotação de empresas de
AI!
espelhos sem patente!
Ups/ hide down.

11.2023

23 de outubro de 2023

Nos trilhos da Estrela


Ao chegar
vejo-te ao longe
ensimesmada gigante,
Estrela minha, ascendente,
e a cada sazonal regresso
tu quieta
do teu regaço
ofertas-me os vales e montes
de quem anseio um abraço
dispões lagoas e fontes
para desaguar do cansaço
e vestes 
a mais viva cor
rubra em matizes, no ocaso.

Cerzida de urze
e giesta
por entre granitos rolados
embalas os filhos nos galhos
que resistem à razia
de incêndios
acumulados
de solos abandonados
e dos invernos de idades
a carpir-te de saudades.
Serra que gera e que morre
solidez que gela
mas chove,
ciclo natural de esperanças.

Subo na tua mão
veredas,
mourejo o coruto de Alfátima
pelos figos que a lenda urde.
Lá em cima, escuto o rumor
das faldas 
do Castro Verde
e dos prantos que a penha verte.
Depois, vigio a cabeça
sem corpo, do velho, que falta,
deve andar no pastoreio.
E vou ao
Vale do Rossim
espalhar-me pela água a meio.

Por estradas
esburacadas
chego às Penhas Douradas.
No maior Tor fico miúda
e chamo, cheia de coragem:
- Oh cântaroos!
Os, os, os...
Sussurra do além a paisagem.
Atalho chalés e pinheiros
fixa no Fragão do Corvo
ninho de rocha a apontar
para a explosão
de relevo
do Zêzere e do seu glaciar.

Observo
o Observatório
mas digo adeus ao cenário
quero ir ao Mondeguinho
para cumprir a tradição
de o saltar
ao pé-coxinho.
Invocação de água, evocas
os fluxos da emigração
a esvaziar as barrocas
e a acelerar a erosão.
Educas
no desapego
aldeias, que perdem o jogo.
 
Vem o fusco
piam sombras
o fresco estala o calor
e surge a madrinha beirã
o teu dossel, Aldebarã, 
para aconchegar-te 
o burel.
Traz leite da via de estrelas
e grilos no breu, a rebate.
O tempo irrompe por dentro.
Serra gigante, embrulhada,
a dormir
na diagonal
das sortes de Portugal.
23.10.23




15 de outubro de 2023

"O poema que não existe" da Grande Coisa




"O poema que não existe"🥰, uma homenagem da Grande Coisa a todos os poetas que lutaram contra regimes opressores nos séc. XX/XXI e lhes resistiram, bem como à beleza que perdemos quando foram torturados e/ou pereceram... 

Podem ver a instalação no FOLIO - Festival Literário Internacional de Óbidos 2023.

1 de outubro de 2023

Sair de Si

Nós,
redondos do ócio
de apenas estar,
inúmeros
planos
decepados.
Somente nós,
marcados dos anos
como dedos de ramos
ausentes das histórias
das árvores do teto,
que me espiam
solta na cama
a vê-los.
Nós
como olhos
maquilhados
a reverberar eras
concêntricas de esperas
de pinho ou carvalho
discretos nos móveis
atalaias de soalho
bulício de copa
cortada.
Nós
cegas feridas
de um corpo fixo
de raiz no relógio de areia
de química e micélio a conversar
sob o solo do bosque em rede.
É uma existência tão díspar
que apenas se concebe
ao sair de Si

e chegar
ao Dó

Sair é difícil
Há tantos
nós


01.10 de 2023


16 de julho de 2023

Polisulfato sódico de pentosano

Várias rídulas,
duas rugas,
uma variz,
que soa mal sem
o plural,
mas esse que não venha
e se fique a veia, 
só, 
varicosa.
(O André ia rebolar-se,
de língua,
por esta palavra.)
Por Guimarães!
Soam aqui ecos 
do Barreto Luís,
Oh mano João!
E de Leiria
veio o Mário Henrique.
Deve ser da idade
e da falta de exercício.

Prescrição da web:
corridas, 
mezinhas,
cremes 
impronunciáveis.
O tempo engole-me e

... penso é em férias. 
Além de varizes,
o tempo também traz as férias.


16.07.2023 

9 de julho de 2023

Meia-lua

Tisnado de caracóis
ao vento, 
surges-me, desgrenhado,
como um gato de Cheshire.
Ora aqui.
Ora não cá.
Chegaste, de sorriso ao céu,
mágico ao peito,
e soltaste essa meia-lua,
tantas vezes encerrada.
Ah
foi por essa meia-lua
que valeu a pena ser gato,
que valeu salivar por bolos,
que valeu espiar o fumo,
do chá,
por entre tambores
e fiordes
à mesa do Chapeleiro.
Ah,
ora não cá,
ora aqui.
Sentaste o sorriso na árvore
a gozar com quem passasse
e uma Alice confundiu-te
com o Tom Sawyer
de outra história.
Sabia pouco de literatura
e da ortodôncia da lua
que ora é aqui,
ora não cá.
Mas ainda bem
que afinal és um gato
de Cheshire.
"Ora não cá, ora aqui"
faz muito mais sentido,
e esse "não cá"
é mais impossível
do que a
meia-lua ser tua.

ao André 

09.07.2023

11 de dezembro de 2022

Do Arco-da-velha

O raio de um arco
(Que o parta!)
irisou-me a retina
no diâmetro da tarde

Que espanto!
Era enorme e vi-o
(Não me deve ter visto)
arredondado
a disparar gotas 
como flechas
em inglês
em alemão 
(Retesei os olhos 
a tentar captá-lo)
através da corda 
hirta de nuvens
(fugiu-me das mãos)

Era um arco de chuva
sobre a minha concha
e quis vir escrevê-lo 
nas línguas
nas lendas
nas lingua-lendas
Quando foi ponte de Iris
do céu para a terra.
Quando molhou as barbas 
de Noé 
pela eternidade
(como a velha arqueada
nos contava por cá)

Era um arco relâmpago 
na boca de Itália
depois das tempestades
e um simples arco
no céu francês
Mas por baixo
da língua da minha terra
(e de outras 
que se viram gregas
para o admirar)
tinha as cores dos olhos
e dos lírios ao sol
à espreita

Pois...
o raio que o parta
do arco
partiu-me
Escrevi e apaguei
escrevinhei e rasguei
(Não fluía... só pairava)
a água em suspenso

a caneta em suspense

Devia ter tirado os óculos
As gotas frias
a bater na emoção
(Leve, levemente,
como quem
chama por mim)
condensaram-se
Embaciaram-me!
Tive de ir buscar um pano
... e usá-lo
para poder ver
(Não se pode desistir
de uma aliança)

Fotografia de Rui Perpétuo 




20 de novembro de 2022

Isto não é o ciclo da água

É Novembro...
por baixo dos pingos da chuva.
Casacos e chapéus correm
fugindo dos pingos da chuva
e todos os preços sobem
por entre os pingos da chuva.
Não faz mal
que caiam os pingos da chuva.
porque as janelas fecham-se
por detrás dos frios da chuva
e a luz de casa reflecte-se
por todos os prismas da chuva.
É bonito.

Precipitação,
Infiltração,
Evaporação e transpiração,
Condensação.

Entretanto,
mais do que os pingos da chuva,
cresce o lucro dos magnatas
infiltrado e de branca luva
e os rios enchem cascatas
e há homens que vivem na rua.
Nas TVs
digitais, sem riscos de “chuva”,
falam de uma recessão
e contam-nos, os manda-chuva,
que a guerra é a explicação,
não houve qualquer falcatrua.
Podia ser…

Infiltração,
Evaporação e transpiração,
Condensação,
Precipitação.

É Novembro,
nuvens precipitam-se em chuva,
tão natural como a água,
como a sede que a anseia e louva.
Só que a recessão é ambígua
repete-se
para quebrar a rima.
Repete-se para
partir o ritmo.
Não muda o compasso da chuva
mas atinge-nos caída “do céu”.
Faz parte de outro ciclo.

O da chuva é natural.

O da recessão,
não.

27 de outubro de 2022

Até já, amigos!

Encontramo-nos,
às vezes,
quando andamos por aí, nos dias,
velozes como patins.
Entretidos a colher maçãs,
a esmiuçar-nos em causas,
ou ensarilhados nos fios,
elétricos,
das comodidades.
Quando nos vemos
nem sempre nos encontramos
mas se isso acontece
criamos estupendos padrões
com os fios de sangue
que trocamos
e tecemos juntos
em novas mantas de conforto
e em tangas de luar.
Cozemos uns nos outros 
os valados e os abismos.
Erguemos os cumes na concha das mãos.
Batemos as palmas,
como asas,
desabridas de alegria,
a cada estória de sucesso,
a cada riso ou gargalhada.
Há outros que encontro,
também por aí,
que projetam aqui o de si,
que refletem as suas couraças
e apenas se espelham,
à superfície.
Pouco importa, são supérfluos.
Mas vocês não.
Vocês não...
porque juntos formamos um nós
que não precisa de se distinguir
de qualquer eles
para definir sabor a nós.
Porque nós amamos
fazer compota com a polpa das frutas
e alimentamo-nos da nossa energia 
em modo wireless
pelas diversas telas onde pintamos
amoras, abraços, aldeias,
balões, brincadeiras, bilhares,
corridas, canoas, canções,
danças, divagações e debates...
todo um alfabeto de energias
fixado em memórias
na mente
no corpo.
Às vezes, quando ando por aí nos dias,
velozes como patins,
não vos encontro,
mas encontro-as a elas
e faço-lhes companhia
até vos voltar a encontrar.
Até já, amigos!

24 de outubro de 2022

Naturalmente incorreto


Escrevi um texto
escrevi um texto há bocado
com toda a indignação das emoções primárias
bebidas em segunda mão no noticiário.
Nasceu-me um texto zangado
porque é em lutas que soluçamos os dias
com lentes parciais
saberes desconexos 
mal articulados.
Não lhes estou imunizada,
às emoções do umbigo,
às armadilhas de ser o ponto um
onde inicio os pensamentos que emano
ao emprenhar de ouvido 
(por muito que tente limpá
-lo).
Sim... É verdade
chegou-me a autocrítica de lixívia e pano
que eu
escrevi um texto zangado
e agora podia apagá-lo.
Nem meia hora volvida e sei que ele não é total
que me emocionei demasiado 
e que
juntei três de ontem com um de hoje
que há egoísmos no seu resultado.
Envolvi-me demais e não vi as vistas largas
todos os pontos de todos os lados.
Não ficou bem estruturado.
O que escrevi é parcial e então podia apagá-lo...
Não está em mim
só o escrevi há bocado
Mas não vou
Vou lá
deixá
-lo
Deixá-lo vivo para que seja lido
ou para que seja ignorado
Ele que se faça à vida
porque se assemelha a ela
incompleto e parcial
parido pela emoção
não só razão 
nem tão só informação

Nasceu um texto mal formatado
que não era perfeito
ainda há bocado

11 de maio de 2022

Anfiguri no séc. XXI

 

Era não era
foi lançado na guerra
num mar que era negro por baixo da terra,
O urso berrava,
a cegonha gemia
e por cima pairavam as asas da águia,
que as lutas de poder são uma pandemia.
Por lá, nas batalhas, ele intervinha
com as unhas dos pés,
que armas não tinha.
Gritou pela NATO!
Chamaram-lhe pato.
Gritou pela União!
Obteve um pião.
Gritou pela Rússia,
Quiseram autópsia.
Num folheto da ONU conheceu a paz,
mas precisava de armas para ser capaz.
Da UE vinham chinas,
dos States afegãs
e entravam nas TVs a lançar avelãs.
Uma das pevides
bateu-lhe no olho
e na sua mente nasceu um piolho.
Não tinha Quitoso para se lavar
e pra ter liberdade tinha de finar.
Havia apenas outra solução:
limitar os partidos com opinião!
De runas no peito,
feito nacionalista,
pouco lhe importava
se o vissem fascista.
Chegou a carta do direito mundial:
“Rasputin era morto...
e Zelen por nascer.”
O que havia o moço então de fazer?
Com o ramo de Bétula agitou girassóis,
virou-se na cama
e puxou dos lençóis.
Quis contar carneiros e via oligarquias
mascaradas algumas de democracias.
Mas sem matar ninguém...
sentia vergonha
de deixar o urso montar na cegonha.
Atirou-lhes bombas,
acertou num artelho,
e escorreu-lhe o sangue
até ao joelho.

8 de maio de 2022

Desejo gelado


- "Meeeu Deeeus!"
Atirou o puto ao sol,
à bruta gritou na rua.

- "Meeeu Deeeus!"
Apoiando-se à parede
como que a fincar na pedra
o calor preso da fila,
enorme, corada de gente,
em frente da geladaria.

- "Meeeu Deeeus!"
Sem o cone na mão,
a derreter o tempo.

- "Meeeu Deeeus!
E se isto não é poesia
eu nada sei de expressão.

12 de abril de 2022

Vaitu


Cumpro-me se enfrentar o medo,
há estrategas na batalha dos Media,
e agir, apenas ser ou estar.

13 de março de 2022

Retrato repetitivo em geometrias de guerra (Perspetivas)


Vista explodida, sem paz
E...
Agora as mulheres vão
com crianças pela mão…
Só mulheres e crianças…
mais crianças e mulheres…
Distanciam-se os viveres
sob explosões e ameaças.
São as mães, as tias e avós,
filhos, sobrinhos e netos,
de ontem rasgaram afetos,
vão juntos, sentem-se sós.
Atrás das mulheres vão
as crianças pela mão,
atravessando as fronteiras
que as designam estrangeiras.
São diagonais de longe,
retas que atingem de perto
uma alma surda que range
o destino feito incerto.
Atrás das mulheres vão
mais mulheres e crianças
com crianças pela mão.
É o feminino em fila
uma infância posta em linha
de fuga. A profundidade
sem convergência não tinha
um horizonte e esperanças,
pois quando esta se afunila
persegue-se outra verdade.
Vista explodida, loquaz,
da ilusão que se desfaz.

Na ampulheta se escoam,
quem sabe se voltarão,
as crianças e as mulheres.
Pra trás, fica a outra metade,
olhos d'água, ansiedade.
São vivos ou já cadáveres?
Homens cravados na terra
improvisados na guerra.
Entre três pólos opostos
as armas, nervos e sustos.
Cravados na sua terra,
perspetiva de três pontos,
homens forçados à guerra.
Peões num jogo maior
de forças e do agressor.
Há pólos na horizontal
de grilhões e fel compostos
muitas omissões e apostas
que os forçam à vertical
para não quebrar as costas.
Homens compostos de guerra,
entre três pontos, arestas,
cruzados sobre a sua terra,
tornam-se nacionalistas.
É deles o contraplano
cujo corpo apara o dano
e da vista militar
vem medo do nuclear.
Visão explodida, eficaz,
em peças mais um país.

No plasma, o olho de peixe
remonta o lego das peças
em notícias ao segundo.
Faz heróis, destrói esperanças,
há mortos, explosões e fumo.
Dicotomias com pressa,
(o complexo que se lixe)!
tudo é pra mostrar ao mundo,
menos o que não interessa
ao seu clicbait de consumo.
E por entre as distorções
surgem os glitches e falhas
das bocas de alguns cabrões:
“Lá vem uma, lá vão duas,
refugiadas a chegar.
Uma é minha, outra é tua,
com fome hão-de aceitar.”
(- Vão de retro, seus canalhas!
Hienas do patriarcado,
que vos mirre e caia o nabo!)
Em mesas, várias nações
infladas fazem gravatas
ao direito que sobeja.
Querem armas e sanções,
triste paz que se planeja.
E com preços a subir
é muita ironia ouvir
que o problema é rimar
corrupção com adesão.
Todos temos de mudar.

Foi esta explosão mordaz?
Ou fratal de humanidade
inconseguida, incapaz?
Queria ver o reverso
diagrama de construção,
de aceitação do diverso.
Viver sem rivalidade
no gasto e organização,
vista explodida, quiçás,
apta pra alcançar à paz!

9 de fevereiro de 2022

Striptease


Aos poucos dispo as peças,
disposta a um striptease...
de fés que usei ao segundo
no tempo em que amava o mundo.
Mas podem hoje cair lestas,
falta tesão que as suporte.
Não são valores em crise,
são trapos velhos, má sorte.
Sigo o ritmo em striptease
p'ra que cada fé deslize
com os acordes da Pop.

Tiro o altruísmo primeiro.
Agito-o ao som frenético
de um egoísmo genético.
A empatia cai por inteiro
e jaz de estertor artístico
pois repudiar é valor
se a diferença se estranha
e o indivíduo se entranha.
Depois desenfio o amor
dos fios do tear místico.
Sai devagar mas compensa,
tráz a paz da indiferença.
Como há muitas verdades
vou-as destapando à vez
p'ra criar afinidades
no logro e desfaçatez.
Por fim rasgo-me a coragem
que ainda agora me cobria,
faz-me parecer selvagem,
é mais moderna a fobia.

Nua por ti, finalmente,
Alma a cru, para agradar,
Sem nada, mal-afamada,
Mundo que encaro de frente,
não te consigo aceitar!
Só não me sinto culpada
e vejo então o meu fracasso:
Ficou a inocência escondida,
por dentro, e trás no regaço
a roupa que foi despida.
Diz que a vista e vá à vida.


E eu coro, visto-me e vou.


09.02.2022



4 de fevereiro de 2022

Esfingimento

 

Nasço às vezes da Quimera
de sentido e união.
Neta de cobra e tufão,
gente absurda mas sincera.
Ao nascer vou colorida,
Pandora de caixa cheia,
mas surgem questões à vida
no real da caminhada
e vejo que estou travada.
É isso que desnorteia.

Nasço às vezes da Quimera,
irmã de quem me restringe,
sou bloqueada p'la Esfinge,
forçada a ficar à espera!
Ela ordena interrogações
E eu finjo, finjo em vão,
que controlo as emoções,
que sei respostas a dar,
ou que elas, se aguardar,
um dia me encontrarão.

Nasço às vezes da Quimera
e não sei o que lhe faça.
Por vezes acho-lhe graça,
outras, já me desespera.
Escritora esfingidora,
que não pode ser poeta,
esfinge tão completamente
as utopias que sente,
 em mitos questiona a dor
para ver se se liberta.
 

04.02.2022

5 de outubro de 2021

A Garota Não, Mundo do avesso

A Garota Não, Mundo do avesso, no YouTube 

A outra canção/texto desta Garota que me tocou imenso. 💓
 

A Garota Não, Canção sem final

 


A Garota Não, Canção sem final, no YouTube 

Um dos textos/músicas que mais senti este ano. Por isso fica aqui 💓💗

24 de maio de 2021

Ideia Peregrina


(Ideia) Peregrina
um dia agarrou-se aos pés e então foi.
(Ideia) Peregrina
por aceiros e veredas até à estrada
deixando provisória a sua morada.
(Ideia) Peregrina
encantada a sós, só pela intuição,
essa abertura ao ser, impulso que mói,
aceno à esperança a pedir direção.

(Ideia) Peregrina
sem saber de chegada a lugar algum.
(Ideia) Peregrina
ocaso das grades, rasgo de vontade
de desatar no espaço a profundidade.
(Ideia) Peregrina
lançada inocente ao caminho de alguém,
largando as fronteiras do lugar comum
atrás de horizontes que ficam além.

(Ideia) Peregrina
esquiço indefinido de uma emoção.
(Ideia) Peregrina
desnudada ao acaso do que encontrar,
grávida do tempo que nos faz medrar.
(Ideia) Peregrina
silêncio exposto a qualquer elemento,
um pé após outro, agarrada ao bordão,
sob o calor, a chuva, a força do vento.

(Ideia) Peregrina
enfrenta as bolhas e o resfolegar.
(Ideia) Peregrina
tacteia num mapa, a sua alegoria,
a explorar por dentro a própria bizarria.
Porque uma ideia (Oh Peregrina!)
pode acertar o passo, se for assumida,
ou virar-nos tortos de pernas ao ar.
Uma ideia cerceia e expande-te a vida.

20 de maio de 2021

Dimensões na distância







O rio move miniaturas do outro lado da margem, do outro lado da planura riscada pelas rotas dos barcos. Entre cá e lá pardais e um cuco são maiores que um camião mas menores que um barco à vela. Um casal de borboletas persegue-se e brinca perto de uma laranja onde o ar se senta. Nenhuma caberia nas janelas dos apartamentos e casas bidimensionais do postal de fundo.

Dimensões.
A àgua separa. Mas o rio une.
O rio estabelece a dimensão sem dar uma escala à distância que existe entre as duas margens. A distância está em muitos pormaiores entre margens.
Há tantas margens.
Há margens salgadas entre a África e a Europa, o próximo oriente e a Europa. Da Europa não se vêem as outras margens do mediterrâneo. O postal da margem africana ou do oriente médio é impresso em papel ou transmitido numa parede.
Fazia falta ver a dimensão da humanidade ondulada na outra margem. Assim, as borboletas, os pardais e os cucos pacíficos parecem mais urgentes. Tornam-se maiores do que o desespero de quem encara as àguas sem o horizonte visível e se atira na esperança invisível...
A distância deturpa a visão.
A distância não é só física.
Há aqui dimensões em falta.

12 de maio de 2021

Adivinha

 

Qual é coisa, qual é ela...
Que corre veloz se eu subo nela?

Quando vou para a escola
Ou se regresso a casa
Trepo-lhe às cavalitas 
E acelero na brasa.

A sua cor não importa
E nem se quer o feitio
com ela eu agarro o vento
Que me envolve macio.

No corropio das ruas 
Sinto-me num trampolim
Pedalo com toda a força
Sentadinha no selim.

Na magia das duas rodas
Os raios giram nos eixos
Hipnotizando as pessoas
E nas calçadas os seixos.

Gosto tanto de andar nela
Que faz de mim uma atleta
A razão desta adivinha
Que é a minha bicicleta.


P.s. Inspirado por uma menina Síria que não conheço mas que em breve vai receber uma bicicleta 😁



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Feriado

O tempo livre da manhã cedo ping a do beirado alaranjado  de telhas de meia cana ping a  porque molha tolos por entre o café quente do feria...