9 de abril de 2009

Impressões de Viagem III

28 de Março de 2009

O mar enrolou-me na areia dos 30 anos em Lizard Point. 
Primeiro no topo de uma falésia a tomar café chilro e um Cornish Pastie, depois junto ao mar...

8 de abril de 2009

Impressões de Viagem II

Somerset, Devon e Cornwall (25 a 27 de Março)

Outro destino...
Com um sorriso, deixou-se na vida nova o amigo em pânico mental de ser assolado por multidões de Mozarts invadindo esquinas; e na cidade, a Pinakoteque que se queria ter visitado para além da porta fechada. Não se deixaram as visões de bicicletas, agora por outras ruas, uma entrou até na família pelas mãos de uma prima que recebeu um presente. A viagem correu-se em trânsitos de pés no chão, de pés no ar em voo, de carril, ou de quatro rodas... e nos dias seguintes com cheiro e vontade de quatro patas de ovelha ou pónei. Ficou só o cheiro.
-“Sei bem que tenho uma névoa de cigarro em volta. Afasta os mosquitos!”
Londres cheirou-se a Starbucks e depois a “bitter”. Londres solarenga de arranha-céus espelhados no fim de tarde, antes de conversas familiares na casa mais aziaga da Rua do Principe Negro, sem a presença do Harry Potter mas com a novidade do Watchmen em livro por companhia antes do filme.
Londres ficou para depois no lombo do transporte de aluguer. Uma meia de lã de conversas de caras antigas e novas foi-se tecendo aos poucos, a cinco agulhas; desfiada a ponta do novelo em refeições caseiras de pub de aldeia e pés molhados nas areias pretas de praias que um dia derrotaram invasões bretãs a golpe do povo.A vegetação densa cedeu como o dia e Darthmoor aproximou-se em mistério nocturno, perdida por estradas estreitas, onde contam as lendas já muitos não encontraram retorno.
“-In half a mile, turn left! In half a mile, turn left! Turn left! Turn left! Turn left!”
O cão dos Baskerville uivava o seu chamamento em voz digital mal compreendida, dirigindo os faróis até à porta de um celeiro, a estadia de repouso no meio da treva. O entusiasmo do insólito mistério. Animais patinhavam e resfolegavam mansos e surpresos, na quinta Burberrys, sem que acendessem a fogueira húmida para aquecimento das almas. A saliva revolvia-se nas papilas como reflexo de outro cão igualmente famoso até se resolver enchendo dos pratos as barrigas e do esforço crepitarem tons laranja.
O frio da pedra empedreceu ossos que custou aquecer no molhado da chuva. No molhado das pontes e dos círculos antigos de Grimspound. Cinzento. Casas, pedras, riachos e chuva, passeios na erva à procura de antanho e termos de chá quente e risos com biscoitos a renovar coragens para os engasgamentos do ponto morto do automóvel.
“- I am taking my license. Do you want me to drive?”
Um bigodinho de Poirot num episódio à beira mar, saltou de uma falésia no desejo de comer ostras. Ostras imaginadas e suculentas justificaram milhas, para ser impossível abri-las depois e partir à cata de um abrigo de lona para a noite. Sempre a chuva. Chuva e estrelas frias em botas más, acenando com os pés adeus aos vintes e comendo camarões fritos numa fofa alcatifa cor de laranja antes do deitar.

7 de abril de 2009

Impressões de Viagem I

Bicicletas, Mozarts e coisas Austro-Bávaras (21 a 24 de Março)

Uma vez avistados, os Alpes seguiram o comboio, nevados e agudos, serrilhados e a acrescentar sentidos à palavra Serra. Mirados de baixo, imponentes, ou em reflexo de lagos plácidos em espelho, ou torcidos nos rios turquesa do degelo. Pontilhavam-se de cedros e demais àrvores bicudas, a par de carvalhos caducos, em terras malhadas imitando as muitas vacas, entre o loiro-ruivo e o azeviche. Um azeviche verdadeiro visível em muitos montinhos da mesma cor.
"-São toupeiras!"
"- Eh, que aqui se alimentam gigantes!"
O quadro ao natural desenhou-se aos ziguezagues de volumes, bicos e cores!
Enormes janelas de corpo inteiro espiavam-se das ruas e dos trampolins nos quintais.
"-Oh! Trampoli-ins!"
Poucos prédios nas vilas, alguns nas cidades, numa vida a dois andares saída da confeitaria. Por baixo a massa fofa de tijolo burro, encimada pela cobertura a chocolate no triângulo de madeira dos quartos. Telhados de duas abas e imensíssimos quilómetros de painéis solares.
"-Olha, para além de pastores... será que ainda há lenhadores?"
Fizeram perguntar os arrumos completos de troncos de lenha cortada ao lado das pseudo-mini-quintas-quintais com barracas a lembrar casas de bonecas ou bungalows de férias.
"-Uma rede de descanso à saída de Salsburgo... à entrada de Munique."
Omnipresentes e sempre mais altos que toda a paisagem humana, exibiam-se os braços estendidos da reza nos pináculos de Igrejas e Catedrais, piramidais em topo fino de quase agulha, competindo em exercício de alongamento com o topo dos cedros que o homem ousou suplantar.
"- Os Americanos bem querem convencer toda a gente que os hamburguers são o prato mais comido no mundo. Mas não é verdade!"
"- Não me digas que queres outro Kebab?"

Salivaram-se as papilas no mercado, no degusto de sandes de queijos ou carnes várias, vegetais suculentos, crus ou grelhados em pães de inúmeras sementes e na "Weisse biere" do dizer de alguém, escorrida em várias goelas.
Um carrilhão espreitou da praça o clarão sonoro do espanto e palmas depois da espera, para que os cavaleiros se enfrentassem em justa até que um caísse e seguisse a dança sob arcadas de ramos. Alheio à dança, longe dali, um homem criava copos e borboletas de vidro na cor do fogo, rodeado pela ciência arrumada em muitas salas e espiado de perto por bisontes extintos de um tecto falso de Altamira.
-"Está a nevaaar!"
O vestido bávaro, cintado em corpete que poderia ser bordado mas era de lã preta e simples, repousou num saco dentro da mala, enquanto o céu cobriu a cidade de flocos, vestindo-a mansamente com as cores da noiva fria. Passos lentos bordariam todo o rendilhado complexo de histórias e vidas humanas no dia seguinte de um passeio à beira rio entre muitos.
- " Vê lá tu que, depois de tantas, hoje só vi uma bicicleta na rua e estava a ser metida dentro do metro"
-"É, isto é tudo muito plano, e chove, e gela... e escorrega! Mas pelo menos aqui ainda não vi nenhum Mozart."

Destaques

Feriado

O tempo livre da manhã cedo ping a do beirado alaranjado  de telhas de meia cana ping a  porque molha tolos por entre o café quente do feria...