28 de outubro de 2024

Nevão

Neva na Serra e
ninguém disso duvida
mas daqui do sopé
já ninguém a vê
e daqui do sopé 
já ninguém 
lá vai.

Sumiu uma Serra 
na magia branca 
apagou-se translúcida 
entre os lábios dos céus
e só a fé afirma
que regressará.

A Serra escondeu-se 
mas o Serrano sabe
que assim deve deixá-la.
O amor das alturas a devolverá 
mantilhada a cristais
e penugens de anjo
o saldo natural do celeste beijo
e virá prenhe de frio 
e de regozijo.

Beija-nos a Serra 
um tremor nublado.
Ninguém disso duvida
mas já ninguém a vê 
nem alguém a subirá 
porque a brancura é pura

mas o nevão é privado.

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