8 de abril de 2009

Impressões de Viagem II

Somerset, Devon e Cornwall (25 a 27 de Março)

Outro destino...
Com um sorriso, deixou-se na vida nova o amigo em pânico mental de ser assolado por multidões de Mozarts invadindo esquinas; e na cidade, a Pinakoteque que se queria ter visitado para além da porta fechada. Não se deixaram as visões de bicicletas, agora por outras ruas, uma entrou até na família pelas mãos de uma prima que recebeu um presente. A viagem correu-se em trânsitos de pés no chão, de pés no ar em voo, de carril, ou de quatro rodas... e nos dias seguintes com cheiro e vontade de quatro patas de ovelha ou pónei. Ficou só o cheiro.
-“Sei bem que tenho uma névoa de cigarro em volta. Afasta os mosquitos!”
Londres cheirou-se a Starbucks e depois a “bitter”. Londres solarenga de arranha-céus espelhados no fim de tarde, antes de conversas familiares na casa mais aziaga da Rua do Principe Negro, sem a presença do Harry Potter mas com a novidade do Watchmen em livro por companhia antes do filme.
Londres ficou para depois no lombo do transporte de aluguer. Uma meia de lã de conversas de caras antigas e novas foi-se tecendo aos poucos, a cinco agulhas; desfiada a ponta do novelo em refeições caseiras de pub de aldeia e pés molhados nas areias pretas de praias que um dia derrotaram invasões bretãs a golpe do povo.A vegetação densa cedeu como o dia e Darthmoor aproximou-se em mistério nocturno, perdida por estradas estreitas, onde contam as lendas já muitos não encontraram retorno.
“-In half a mile, turn left! In half a mile, turn left! Turn left! Turn left! Turn left!”
O cão dos Baskerville uivava o seu chamamento em voz digital mal compreendida, dirigindo os faróis até à porta de um celeiro, a estadia de repouso no meio da treva. O entusiasmo do insólito mistério. Animais patinhavam e resfolegavam mansos e surpresos, na quinta Burberrys, sem que acendessem a fogueira húmida para aquecimento das almas. A saliva revolvia-se nas papilas como reflexo de outro cão igualmente famoso até se resolver enchendo dos pratos as barrigas e do esforço crepitarem tons laranja.
O frio da pedra empedreceu ossos que custou aquecer no molhado da chuva. No molhado das pontes e dos círculos antigos de Grimspound. Cinzento. Casas, pedras, riachos e chuva, passeios na erva à procura de antanho e termos de chá quente e risos com biscoitos a renovar coragens para os engasgamentos do ponto morto do automóvel.
“- I am taking my license. Do you want me to drive?”
Um bigodinho de Poirot num episódio à beira mar, saltou de uma falésia no desejo de comer ostras. Ostras imaginadas e suculentas justificaram milhas, para ser impossível abri-las depois e partir à cata de um abrigo de lona para a noite. Sempre a chuva. Chuva e estrelas frias em botas más, acenando com os pés adeus aos vintes e comendo camarões fritos numa fofa alcatifa cor de laranja antes do deitar.

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