7 de abril de 2009

Impressões de Viagem I

Bicicletas, Mozarts e coisas Austro-Bávaras (21 a 24 de Março)

Uma vez avistados, os Alpes seguiram o comboio, nevados e agudos, serrilhados e a acrescentar sentidos à palavra Serra. Mirados de baixo, imponentes, ou em reflexo de lagos plácidos em espelho, ou torcidos nos rios turquesa do degelo. Pontilhavam-se de cedros e demais àrvores bicudas, a par de carvalhos caducos, em terras malhadas imitando as muitas vacas, entre o loiro-ruivo e o azeviche. Um azeviche verdadeiro visível em muitos montinhos da mesma cor.
"-São toupeiras!"
"- Eh, que aqui se alimentam gigantes!"
O quadro ao natural desenhou-se aos ziguezagues de volumes, bicos e cores!
Enormes janelas de corpo inteiro espiavam-se das ruas e dos trampolins nos quintais.
"-Oh! Trampoli-ins!"
Poucos prédios nas vilas, alguns nas cidades, numa vida a dois andares saída da confeitaria. Por baixo a massa fofa de tijolo burro, encimada pela cobertura a chocolate no triângulo de madeira dos quartos. Telhados de duas abas e imensíssimos quilómetros de painéis solares.
"-Olha, para além de pastores... será que ainda há lenhadores?"
Fizeram perguntar os arrumos completos de troncos de lenha cortada ao lado das pseudo-mini-quintas-quintais com barracas a lembrar casas de bonecas ou bungalows de férias.
"-Uma rede de descanso à saída de Salsburgo... à entrada de Munique."
Omnipresentes e sempre mais altos que toda a paisagem humana, exibiam-se os braços estendidos da reza nos pináculos de Igrejas e Catedrais, piramidais em topo fino de quase agulha, competindo em exercício de alongamento com o topo dos cedros que o homem ousou suplantar.
"- Os Americanos bem querem convencer toda a gente que os hamburguers são o prato mais comido no mundo. Mas não é verdade!"
"- Não me digas que queres outro Kebab?"

Salivaram-se as papilas no mercado, no degusto de sandes de queijos ou carnes várias, vegetais suculentos, crus ou grelhados em pães de inúmeras sementes e na "Weisse biere" do dizer de alguém, escorrida em várias goelas.
Um carrilhão espreitou da praça o clarão sonoro do espanto e palmas depois da espera, para que os cavaleiros se enfrentassem em justa até que um caísse e seguisse a dança sob arcadas de ramos. Alheio à dança, longe dali, um homem criava copos e borboletas de vidro na cor do fogo, rodeado pela ciência arrumada em muitas salas e espiado de perto por bisontes extintos de um tecto falso de Altamira.
-"Está a nevaaar!"
O vestido bávaro, cintado em corpete que poderia ser bordado mas era de lã preta e simples, repousou num saco dentro da mala, enquanto o céu cobriu a cidade de flocos, vestindo-a mansamente com as cores da noiva fria. Passos lentos bordariam todo o rendilhado complexo de histórias e vidas humanas no dia seguinte de um passeio à beira rio entre muitos.
- " Vê lá tu que, depois de tantas, hoje só vi uma bicicleta na rua e estava a ser metida dentro do metro"
-"É, isto é tudo muito plano, e chove, e gela... e escorrega! Mas pelo menos aqui ainda não vi nenhum Mozart."

1 comentário:

  1. passou agora aqui um mozart, com os mozartzinhos atrás. Pelo menos não borraram a rua.

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