18 de maio de 2011

Colo


Perdi o meu colo... um dia partiu.

Mas todos disseram que era triste chorar.
Que era feio e rude mostrar a tristeza,
que assumir a fraqueza era de envergonhar.
Assim, cerrei os dentes e cravei-os nos lábios.
Aderi à turma dos senhores da certeza,
aprendida sisuda desses discursos sábios.
Se gritos me tive, não gemi de pudor;
Se o lábio sangrou, degluti, p'ra nutrição;
Se lágrimas vieram, passei-as a secador;
Se a tristeza raiou, atirei-lhe uma canção.

Mas esquecida, nos aceiros do controlo da dor,
abateu-se-me exausta a matriz do coração!
(Esquecer é um sofisma de esforçada lentidão...)
Antes lutasse em nascer, do que nesse controlar,
Porque hoje falta-me o colo
... e a ciência de sentar.


07. 2010 (Concluído em 05. 2011)

Ao Pai

1 comentário:

  1. Falasda minha entrega. Depois de ler a tua tenho de sacudir aqui um arrepio de espinha.Lindo!
    Beijo grande

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