27 de fevereiro de 2009

The rain in spain stays mainly in the plain...




Uma vez que ainda ando às voltas com isto e ficou pequenino... cliquem na imagem para ler a BD. Alguém sabe como é que eu posso aumentar a imagem?

Imagem retirada de http://www.gocomics.com/

24 de fevereiro de 2009

Fui à guerra

Fui 
Um dia fui para a guerra e estive lá. 
Tomou-me vinda de fora, 
nos estertores das armas, 
nas pernas brutas correndo montanhas, 
nos punhos fechados que puxam e nos abertos que empurram, 
no aço frio que corta a gume, mais que a bala, 
na urgência de agir em silêncio e de imediato antes do grito. 
Fui correndo ao medo, para o medo... 
E ela possuiu-me, tendo-a eu possuído. 

Tive a guerra. 
Tive a guerra dentro do peito a toda a hora, 
encerrada e expelida às golfadas ao rufar dos tambores. 
Ansiosa a romper as entranhas, desvairada, contorcida, 
Reactiva até aos silêncios, que a pouco e pouco desapareceram. 
O rugir. O clamor que tomou conta dos membros, 
Até que deixasse de ser possível imobilizá-los jamais, 
Pará-los do perpétuo movimento, um instantinho que fosse, 
Para descanso. 

Doí-me da guerra. 
Doí-me da guerra histérica e cansada sem saber como soltá-la, 
Como desprender-lhe os cheiros dos cabelos e raspar a fuligem da pele. 
Soldado recrutado por dentro, sem direito a licensas nos momentos mortos, 
sem hipóteses de deserção. 
Consumida no desvario do hábito reactivo aos vislumbres de dor, 
de orgulho, poder, impotência e pranto. 
Sem mapa ou outro mundo para onde pudesse fugir, 
Carregando por todo o lado a caixa das munições, 
Sempre pronta a disparar. 

Porquê? 
Não lembro inícios ou porquês explicados. 
A minha origem da guerra... É que fui, estive e estou lá. 
É que a tive e tenho... e que me doí histérica. 
Os hurros, a exaustão, as munições em permanência, 
Os gestos hábeis, reconstruindo as memórias do corpo, 
Condicionaram o que o passado foi... e é só presente que resta. 
Reagindo a seco, de ofensa em ofensa, sem cessar fogo. 
No entanto, por entre os clarões do fundo da alma... 
o paradoxo é que... Subjacente à força da guerra... 
o desejo profundo é de paz. 
R.I.P. 


(24.09.08, Coimbra)

Grito de Guerra

Que venha a força… 
de percorrer o mundo em grito! 
Com a guerra nos braços e no músculo do coração! 
Com a guerra que não mata, 
com a guerra que constrói e luta, 
independentemente das conotações das palavras, 
independentemente dos julgamentos de valor! 
Há paredes a derrubar e paredes a erguer, 
se nos casebres nos entra o frio e a chuva! 
Há árvores a abater e florestas a plantar, 
se o clima e as gentes a não completam! 
Há conceitos a partir e ideias a criar, 
se os valores se agitam dentro dos sistemas! 
Há estalos a distribuir e beijos a partilhar, 
se os espaços se tocam e não se são indiferentes! 
Com a guerra nos braços e no músculo do coração, 
já não há Amazonas, nos entretantos do devir, 
mas há auroras vermelhas que pedem resolução! 
Chega de palavras! 
Que venha a guerra na sua onomatopeia bruta! 
Soem clarins e tambores! 
Que eu grito e… fui! 

(06.06.06, Coimbra) 

Vassoura

Vassoura

Varre… 
Varre bem! 
Que uma mulher deve aprender a varrer. 
Varre os lixos, as louças, 
varre os laços. 
Varre a cozinha, os cantos, 
varre os cacos. 
Varre os sentidos, as saudades, 
varre os sonhos. 

Varre tudo para debaixo do tapete. 
Para um dia ao levantares as pontas 
recordares a porcaria que juntaste! 

(21.10.96, Gouveia) 

23 de fevereiro de 2009

Barriga

Vi-te 
Agarravas-te à barriga 
Como quem lhe dói e se concentra cansado 
Agarravas-te à barriga, no canto da sala mais escura, entre as mãos. 
Entre todas as mãos agitadas e entre as tuas. 
Encolhido, submerso no canto mais escuro 
Engolido como quem se ausenta. 
Esporadicamente, chegavam perguntas do teu estado. 
O anonimato não salva ninguém das preocupações humanas. 
E ainda dizem que ninguém se importa. 
Que sim - exigiam resposta - que sim que estavas bem. 
Que as indisposições são simples e passageiras. 
O pranto corrido em vertigem, mascarado de biologia. 
Desculpas! 
Quando os olhos secam 
Resta-nos o pranto rasgado do interior. 
Vertias as águas em sangues e sucos pelas paredes. 
Reconheci-a quando te vi, a encenação protectora. 
Mas estavas nu por trás das mãos, no pudor invisível do escorrer das dores. 
As entranhas não se revolvem apenas em digestões. 
Como tu, também procuro o seu espaço redondo e quente para chorar. 

(15.04.07, Coimbra) 

Oh e se eu criasse um blogue?

Ai que medo que eu tinha e tenho disto... mais um espaço de visibilidade na era da imagem, da exposição e julgamento de valores global! A multiplicidade à grande escala pode ser fecunda mas mete um "respeitinho do caraças". Ainda por cima através da escrita... ui, ui, ui. Ou isto me absorve e não saio daqui ou sou é capaz de não voltar cá eheheh. Mas como também tenho curiosidade para ver o que me sairá daqui... siga! Junto-me ao fluxo da participação internauta activa e começo com este post de duvidas e intenções. Para quem se fala num blogue? Assumem-se temas, variam-se? Torna-se confessional, informativo, discursivo, selectivo, discutivo? Há tantos blogues por aí que vou visitando... Este não pode ser temático-informativo porque a modos que não tenho um tema sobre o qual me apeteça informar os outros, vocês, neste caso ainda só a tela do computador... assim, parece-me que acabará por ser... se for... um discorrer de dias e o que a eles lhes bem aprouver. O típico e sempre mais ou menos blog-pessoal. Bem e o "Diz... Farsa", vem-me de ser véspera de Carnaval ! Um nome que Diz letras e Não Diz coisa nenhuma. Que me descobre e disfarça... que pela farsa encerra historias e operetas, verdades e engodos, luzes e sombras... Achado num dia com tempo para revisitar as máscaras guardadas e tirar-lhes o pó, despir "cagufas" encapotados, diz...farsar essa "miufa" e sair à rua de cabeçudo sobre os ombros, a equilibrar-me nas andas e a atirar ovos, farinha, serpentinas e papelinhos, ao som de bombinhas a estrelicar, cornetins e línguas da sogra! Pois bem, caro blogue... eu e tu, cá vamos nós!

Ver também: Confissão sobre

Destaques

Feriado

O tempo livre da manhã cedo ping a do beirado alaranjado  de telhas de meia cana ping a  porque molha tolos por entre o café quente do feria...