23 de fevereiro de 2009

Barriga

Vi-te 
Agarravas-te à barriga 
Como quem lhe dói e se concentra cansado 
Agarravas-te à barriga, no canto da sala mais escura, entre as mãos. 
Entre todas as mãos agitadas e entre as tuas. 
Encolhido, submerso no canto mais escuro 
Engolido como quem se ausenta. 
Esporadicamente, chegavam perguntas do teu estado. 
O anonimato não salva ninguém das preocupações humanas. 
E ainda dizem que ninguém se importa. 
Que sim - exigiam resposta - que sim que estavas bem. 
Que as indisposições são simples e passageiras. 
O pranto corrido em vertigem, mascarado de biologia. 
Desculpas! 
Quando os olhos secam 
Resta-nos o pranto rasgado do interior. 
Vertias as águas em sangues e sucos pelas paredes. 
Reconheci-a quando te vi, a encenação protectora. 
Mas estavas nu por trás das mãos, no pudor invisível do escorrer das dores. 
As entranhas não se revolvem apenas em digestões. 
Como tu, também procuro o seu espaço redondo e quente para chorar. 

(15.04.07, Coimbra) 

3 comentários:

  1. Se tivesses isto separado por posts, terias tido mais trabalho, mas davas menos trabalho a mim! Assim, parece bués! Doutra forma, era só ir selecionando os que faltassem por ler!

    Chata!

    Mas gostei dos dois primeiros!!!

    Mas ainda não li mais nenhum ;)

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  2. Eheheh, tens toda a razão, claro!
    E vê lá que eu até pensei nisso mas... não sabia se os posts iam aparecer de trás para a frente ou da frente para trás (ainda ando a experimentar esta coisa chamada blogue)... e eu queria aquela sequência assim.
    Além disso... quis juntar tudo para aparecer como coisa do passado e lhe poder dar aquele título sem estar a por I, II, III e parti-lo aos bocados eheheh...

    Atenciosamente chata ;) eheheh

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  3. Não tens que te justificar! Estava só a tentar ser chato!!!

    Tens que ligar ao que te diga?

    Chata!

    PS: vou ter de voltar a ler o "barriga" :P

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