9 de fevereiro de 2022

Striptease


Aos poucos dispo as peças,
disposta a um striptease...
de fés que usei ao segundo
no tempo em que amava o mundo.
Mas podem hoje cair lestas,
falta tesão que as suporte.
Não são valores em crise,
são trapos velhos, má sorte.
Sigo o ritmo em striptease
p'ra que cada fé deslize
com os acordes da Pop.

Tiro o altruísmo primeiro.
Agito-o ao som frenético
de um egoísmo genético.
A empatia cai por inteiro
e jaz de estertor artístico
pois repudiar é valor
se a diferença se estranha
e o indivíduo se entranha.
Depois desenfio o amor
dos fios do tear místico.
Sai devagar mas compensa,
tráz a paz da indiferença.
Como há muitas verdades
vou-as destapando à vez
p'ra criar afinidades
no logro e desfaçatez.
Por fim rasgo-me a coragem
que ainda agora me cobria,
faz-me parecer selvagem,
é mais moderna a fobia.

Nua por ti, finalmente,
Alma a cru, para agradar,
Sem nada, mal-afamada,
Mundo que encaro de frente,
não te consigo aceitar!
Só não me sinto culpada
e vejo então o meu fracasso:
Ficou a inocência escondida,
por dentro, e trás no regaço
a roupa que foi despida.
Diz que a vista e vá à vida.


E eu coro, visto-me e vou.


09.02.2022



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