22 de março de 2009

Serenidade

Um fumo brando e branco, 
De cigarro em ponta acesa, 
envolvido em volutas lentas 
Ao som do blues... 
O corpo respirado em pausa 
De solidão procurada 
Por saber bem estar-se por dentro 
A sós, 
Sem espera 
Sem mais procura 
Que a de ser-se Ali. 
Uma semi luz do fim do dia 
De alma cheia do que havia, 
A alimentar o momento. 
A lassidão despojada, 
Espojada no sofá, 
Confortada pelos braços, pela vida 
Sem expectativa. 
O repouso cadenciado, 
Inspirado e expirado sem noção. 
E não falta nada ao momento 
A sensação... o som, o fumo branco, azul do blues, 
a serenidade feliz. 


(14.11.08, Coimbra) 

13 de março de 2009

UniVerso nas noites de lua cheia


Hoje escolhi publicar na mensagem abaixo os "Ventos Universais", ou os "Ventos do amor Universal"... porque me lembrei dele quando me apeteceu escrever aqui sobre os encontros UniVerso, nas noites de lua cheia cá em Coimbra na Galería Ícone (Pátio da Inquisição). Vejam http://universocirculo.blogspot.com/

Estes encontros começaram há muito pouco tempo, esta 4a feira foi o terceiro. São encontros de partilha, de poemas e textos, pessoais ou de autores, lidos em círculo ao ritmo improvisado e próprio de cada um! Gerando conversas ou silêncios... Cadências de linguagens, imagens e emoções... no conforto sereno do círculo, e às tantas um dedinho de vinho do Porto surgiu para aclarar gargantas.

Esta quarta feira enrolaram-se e desenrolaram-se poemas cortados e lidos de um fio, leram-se poemas pintando narizes, e outros poemas, e prosas de vários autores, e poemas e contos pessoais... um conto que terminava com imensos vegetais à volta de uma fogueira!!! E a frase que às vezes surgia no final de uma leitura: "Não queres repetir?"

Eu quero certamente! Na próxima lua cheia...

Ventos do Amor Universal no Ciberespaço


- Vou fugir.
- Foge, foge…
Vem ao topo do castelo,
onde o meu tubo amarelo,
solta bolhas de sabão.
Segue-lhes a direcção.
Saem vivas, diminutas,
Atrevidas, voam soltas
ou rebentam-se no chão.


Miríades de arco-íris rubicundo,
elevadas no ar, e dispersas p’lo mundo.
Mas sopra-se o vento suão,
e elas não chegam a Portimão.

- E a Albufeira?
Serão capazes, poderão?

- Talvez uma se perca pela beira,
De um fio de ar que subiu,
E assim elevada consiga
Encontrar quem o pediu.

- Onde? Onde?

- Às cinco da tarde à direita,
Se mirares na brisa estreita,
No topo da rocha maior,
Talvez te brilhe ao redor,
Uma bola pequenina,
Rodada de saia menina,
dançando de súbita cor.



Nota: Este texto merece uma nota pela experiência gira que foi dialogá-lo. Surgiu no msn, num dia de parvoeira mental em conversa com o dono do http://www.martelodaletra.blogspot.com/. Na altura, em 2008, eu não tinha blogue e foi publicado lá. Hoje tenho e quero-o aqui junto aos outros eheheh. Fica o vento universal a bater dos dois lados eheheh e a dispersar as bolas de sabão.

8 de março de 2009

Maria

Só mais, 
Mais uma manhã de muitas, 
madrugada. 
Mais uma que é fresca de ar e de sono carregada. 
Com a bata ao peito… 
A touca apertada… 
Assim a Maria, começava o dia, abrindo a esplanada. 

Em vagas, 
Em grupos de alguns, 
ou então, isolados. 
Chegavam dos bares nocturnos vultos esfumados. 
Alguns resistentes… 
Bêbados e parvalhões… 
Eram eles os primeiros, os raios de luz, de olhos cavados. 

As mãos 
Sem muito a medir e os pés 
Sempre alerta. 
Reagem sem tempo a perder e a cabeça desperta. 
Numerar os cafés… 
Controlar as torradas… 
Separar dois tipos, ouvir uns piropos, levá-los à certa. 

Depois, 
da vaga e do entra e sai 
Continua. 
Conversa com uns entre risos e às vezes amua. 
As queixas dos clientes... 
E depois do patrão... 
Esvai-se lhe a paciência, já no fim do dia, quando volta à rua. 

As contas, 
Fechadas por fim já sem 
Energia... 
Que dispersa por tanta outra gente, desaparecia. 
No regresso a casa... 
seguia extenuada... 
Maria vivia, deixava-se inteira, na pastelaria.

(15.04.07) 

4 de março de 2009

Estendal de amores

Como de hábito e de ensino 
também ela colocou 
toda a sua roupa suja 
no tanque velho, e lavada, 
toda a sua roupa agora, 
no estendal dependurada.

Como de hábito e de ensino 
também ela se entregou 
toda inteira, verdadeira, 
a um homem, mas passada, 
toda inteira e verdadeira, 
não se viu emparelhada. 

Como de hábito e de ensino 
seria por certo falada, 
mas os tempos são hoje outros, 
a vida está… muito mudada. 
Com hábito e ensino trocado 
ninguém está muito importado. 

Mas mesmo com toda a mudança 
não se muda o que é vivido. 
E estende-se ao sol, que clareie, 
a mancha… que não se lavou. 
E estende-se ao sol, que clareie, 
a nódoa negra que ficou. 
 22.02.07

3 de março de 2009

Bailarina

De pé em arco, sem sombrinha, 
inspirada por alma de artista, 
mas sem saber bem ao que vinha, 
a bailarina equilibrista, 
em traje da mais fina malha, 
qual fio de prumo, a rigor, 
pousou-se no fio da navalha, 
disposta a lançar-se no amor.












Mirou risonha, pendente do céu, 
a razão dos suspiros... e estremeceu. 
Pois mal ele olhou, e ela lhe sorriu, 
o mundo inteirinho, apagou-se e fugiu. 
Ficou-se a verdade, simples e desnudada, 
de desejo exposto na face rosada. 
E lançou-se ao ar, na ronda do vento, 
de braços abertos, com um novo alento. 

Balança o baloiço, que se exibe e mostra, 
ele que aprecie, que veja se gosta. 
O prumo, o rigor, a arte flexível 
a cadência elegante do esforço invisível. 
Ele anui que sim, que é bela a dança, 
mas de pescoço torto, tão logo se cansa. 
Ora a bailarina, sem esperar por nada, 
depressa tropeça desengonçada... 

E sem rede ou apoio, a que se agarrar... 
tragou-se no gume, deixando de amar.
 
Iniciado em 2007... concluído em 2009

2 de março de 2009

Sonolência

Um ténue calor de conforto
Refluiu em vagas quentes,
crescentes,
a hora imprópria...
descendo dos ombros à base da coluna,
num estremecimento,
aterrando pesado no centro estomacal.
A digestão.

Hum... suspirou-se o gemido
Em onomatopeias da vontade...
De ceder ao corpo e fechar um olho,
Pesado, e fechar os dois,
Sentir o negro calmo da batida,
O coração.
Tum-tum, Tum-tum,
Ritmado, convidativo.
Mas negá–lo e agitar um calafrio
A despertar!

Prender as pálpebras à existência luminosa.
Não ceder, não adormecer!
O peso de toneladas
Firmado na gravidade muscular.
Os olhos a bater em par ao par do tempo
E a impossibilidade de formar mais raciocínios
Um canto aninhado e...
Humhum,
Tum-tum, Tum-tum,
Silêncio.

02.03.09

Destaques

Feriado

O tempo livre da manhã cedo ping a do beirado alaranjado  de telhas de meia cana ping a  porque molha tolos por entre o café quente do feria...