28 de dezembro de 2009

Festival de Passagem de Ano em Coimbra






















Está quase a começar mais um festival de musica e dança, de raiz tradicional mas com rebentos e ondulações contemporâneos. Em pleno inverno a árvore veste-se de cores e gestos que aquecem qualquer noite fria do passar do tempo, as saias e os sapatos aprontam-se para rodar nos ramos ao som de vários ventos de outrora e de agora. O Rodobalho e a Tradballs convidam novamente a que demos as mãos e encontremos os pés.
Espero encontrar-vos por lá... a partir de dia 31 até dia 2, em Coimbra, no Centro Norton de Matos.

Para mais informações visitem:

http://www.passagem-de-ano.net/

ou através de

http://www.rodobalho.com

21 de dezembro de 2009

Corada

Suspiros lembram-me que era de ontem e não de amanhã que se pintavam os castelos ao lusco fusco de alaranjado fulvo ao pôr-do-sol. No inverno possuem-se as cores que despontam no inverno, por muito que seja saudosa a lembrança do final de verão.

É nessa altura que as pessoas desatam a falar de estações do ano e a discutir se faz frio ou se chove debaixo das gabardines... quando na realidade o que importa são as cores... e se adivinha que amanhã o pôr-do-sol visto de frente terá os mesmos tons de cinzento de nuvens que já trazia de hoje. Inventam-se novos suspiros na monotonia cromática.

Luze porém, em meio ao cinza, a luz de Prometeu, na minha casa. E é não o sol mas a labareda que me atiça a esperança das cores de agora, e de todas aquelas que acenderei amanhã.

10 de dezembro de 2009

Impressões de Viagem: Barcelona

Barcelona o patchwork que funciona.

Sob o sol, uma manta de retalhos de imagens várias e muitas cores, padrões abstractos, animais e vegetais e contrastes de texturas, combinações de cores e materiais. Eis a cidade! Barcelona do ferro fundido, do tijolo, do azulejo e do vidro colorido em vitral. Arquitecturas pintadas e misturadas, linhas direitas e linhas fluídas, quebradas e continuas, jogos de volumes largos e estreitos, de sombras e de luz, numa imensidade de pormenores que quase poderiam oprimir... mas estranhamente... não.

Barcelona, barroca de efeitos, de enfeites, mas curiosamente leve, distando menos de um centímetro do kitsh... que resulta e não o é... Uma cidade que senti sintetizada na fachada da Sagrada Família: A mistura de pormenores e contrastes, de materiais, de palavras com estalactites, do antigo com o moderno, de linhas curvas com ângulos agudos e rectos, da pedra e cimento frios com a cor gritante dos pinaculos e de uma àrvore solitária cheia de pombas... um exercício de mistura quase a uma unha de distância do mau gosto profundo... com um resultado estranhamente equilibrado e elegante, dinâmico e fluído até! Como é possível?

Não sei... aí está o fascínio que trouxe de Barcelona, o apreço pelo seu burburinho alegre e a vontade de regressar para explorar e sentir mais.

3 de dezembro de 2009

Conversas da irmandade

- Caríssimo irmão, Um dia destes estás intimado para me dar uma ajudinha.

- Hum… e qualquer dia destes tu estás é agarrada a uma tomada!

- Oh, olha que parvo! Estás a ouvir mãe o que o teu filho me deseja?

- Só te desejo coisas boas, maninha. É bom para emagrecer, com a passagem da corrente. Deve ser bom!

É caso para dizer que, com irmãos destes... ninguém precisa do Talon.

24 de novembro de 2009

Anonimato

Podemos aceitar ser anónimos entre estranhos… mas não perto dos amigos e familiares. Às vezes surge o desejo desse anonimato, do poder sentir simplesmente o momento, despojado de nós, do passado e do futuro. Só mais um, entre estranhos… mas isso não é possível na aldeia onde se nasceu. Não é possível no meio da família e dos amigos, por isso à vezes emigra-se, e de lá longe fazem-se muitas coisas e vive-se o presente.

14 de novembro de 2009

Ninho de gato


Mio... hoje mio e mio alto, 
porque miar é inerente ao gato 
e me revi, matinal, nesse retrato. 
Com vastos bigodes desfiados 
e a querer oferecer-me aos miados... 
Rocei-me na fímbria da velha 
e levei com uma pedra dura. 
escorreguei por uma telha 
e deram-me com a vassoura. 

Miaaaauuuu! 
E eu hoje que só queria... 
uns carinhos no focinho, 
o mimo de um bom toucinho, 
mas parece que não havia... 
E eu bem os dei... sorrisos leves, 
soltei-os pelo canavial, 
Dei até festas ao cão, mas breves, 
não fosse ele... entender mal. 

Miaaaauuuu! 
Ah, mas mal me parecia... 
Isto nem resulta aqui,
nem na outra freguesia... 
Pra esquecer a fome de tanto, 
sem ninguém que por mim espreite, 
só me resto eu no meu canto 
de gato aninhado e sem leite... 
 
14.05.09

8 de novembro de 2009

Oficinas de S. Martinho 2009

Os dedos que tocam e exploram, aprendem. Os dedos que libertam
o som, nos instrumentos.Os dedos de mão aberta e mão fechada,
no violino, no cavaquinho, na concertina,na pandeireta, no adufe,
nas percussões,os dedos na Gaita e na fraita, os dedos nos paus
onde se não pode acertar. Os dedos que se mexem e entrelaçam.

Corropios de dedos também em abraços. Dedos de conversa e
amizade,dedos especiais em braços abertos. Dedos à volta de uma
bebida quente à chuva. Dedos de mãos dadas na dança e dedos que
estalam no ar.

Dedos das mãos que maravilham e constroem. Onde nada havia, tudo
se transformou e encheu. Dedos dos pés que nos carregam no
maravilhoso encontro e encanto de estarmos, de nos darmos, de
partilharmos, sempre ao som da musica de hoje e de antanho,
sempre na dança dos movimentos.

Bem haja a quem esteve nesta 3ª edição das Oficinas de S.
Martinho, a quem colaborou, se deu, nos deu! Acordo hoje com um
sorriso de orelha a orelha, desenhado pelos vossos dedos...

E mais, que entretanto veio à luz do dia... tivemos direito a artigo no Diário de Coimbra de hoje. Ora vejam...



1 de novembro de 2009

Fides



Chove na rua uma água fina e insonora de paz e bênção. A verticalidade espalha-se derramada e sobe depois ao ar, recheada de odores da terra fresca. Cai-se do branco celeste, em traços curtos que agitam a paisagem repousada e quieta... abandonada ali, escoada das gentes e dos seus passos curtos.

Indiferente, a rua chove... e dali me alcança numa aragem fresca e simples de conforto e protecção. Olho-a como chegou, literalmente uma dádiva celeste de um pacato céu de domingo... que assim me oferece o usufruto do presente, sem pedir em troca qualquer demonstração de fé.

01.11.09

14 de outubro de 2009

Inanimado

Inanimado...
Diz-se do objecto encaixado na parede
Inanimada...
Diz-se de lhe. Dele. Dela.
Sem alma.
A porta na parede moveu-se.
Fechada, abriu-se, sem ser de si.
Aberta, bateu-se sem se magoar.

Inanimado...
Inanimado diz-se do vento.
Inanimado mas móvel...
Diz-se também de lhe. Dele.
Sem alma.
O vento insuflou, abriu e fechou a porta,
Tocando-lhe sem intenção reconhecida,
Que não há alma numa corrente de ar, só Física.

Animado...
Animado dir-se-à do eu.
Animado...
O eu que se possui. O me-eu. Mim.
Mim que me movo e me penso.
Mim com ânimo, se me não faltar.
Portas que batem... ninguém entra ou sai de aqui. Daqui.
Des-animado vento, insufla-te e leva –me... mas não pela porta
Prefiro voar pela janela.

02.03.09

22 de setembro de 2009

The fantome of "The ring"

Comming from long ago in the past, a transparent and incolor ring that someone wore. Excavated, it came to the lab... the archaeologist studies it, measures it, looks at its surface to see the strains... and suddenly, while taking a photograph, she sees... near a fracture, on the right... looking right through... the face of a blacked eye fantome boy!

Can you see it? I chanlenge you!
It is true... I've seen it there and in fact it is... Spooky!!!!






21 de setembro de 2009

Parvoices a um tempo

Permitindo-me passar ao papel
Palavras pensadas por p(ês).
Principio pelas Panelas,
Paredes pintadas, e pevides,
Pêras, pomos e pis...tachos.

Passo aos paspalhos pimpolhos
Perambulando pelo pátio
De papoilas puidas plantado.
Oh!
Passou-se-me a pila, o pénis,
e o penteado da personagem plácida
prostrada aos pés de um poderoso palerma.
Para quê pensar parvoíces?
Parece-me perda... perda de tempo!

Teria, então, talvez, tentação
De tentar trocar o tom
Que tolice!

Na política podem os P(ês).

uma parvoíce de 2001

10 de setembro de 2009

Exibit: Sessão fotográfica com Modelo

(Eh eh eh! Não resisto...)

O Blogue Disfarsa tem o prazer de apresentar em primeira mão, uma amostra do resultado de uma sessão fotográfica desenvolvida em Madrid, datada dos finais do ano de 2008, que só hoje vê a luz do dia. Este inolvidável trabalho foi concebido por uma tripla de ideólogos e mestres da arte visual, ancorada na criatividade de uma conhecidíssima dupla de promotores/contadores de histórias de âmbito internacional Ibérico.

Pode dizer-se que o tema da composição enquadra duas temáticas populares que percorrem sob várias formas a cultura tradicional e a contemporânea, e que se podem resumir nos conceitos de: "Quero beijar a gaja que todos dizem que é boa - ou práticas e rituais de inserção do homem comum na comunidade viril do seu tempo"; e "Eu digo mata e tu esfola - ou a expressão grupal do "faça você mesmo" em contextos de lazer". Neste trabalho assiste-se pois à concretização destes temas num fabuloso ensaio fotográfico de perspectiva e cor a 3 vozes.

Em primeira mão pode ainda dizer-se que a oportunidade que o Dizfarsa teve de confraternizar com estes artistas veio apenas confirmar o génio, o choque profícuo de imaginários que se acrescentam e a criatividade feita do estímulo do quotidiano. Um simples passeio na rua, pode assim tornar-se moto suficiente para tocar estas sensibilidades e assim metamorfosear a realidade em composições de embriaguês mental. Também ela uma das temáticas mais caras à sociedade hodierna.


A. Contador Tricorne Português empoleirado em ritual de Adoração



B. Contador irmano Tricorne concretiza desejado ósculo na Musa






C. "Ora abóboras!"Ou a expressão das diferenças comportamentais





D. Desconstrução formal de um conceito em movimento ou A exploração da multiplicidade funcional das aberturas






E. Extrapolação infantil ou... ficava mesmo bem aqui um tom de azul!




Para quem leu isto tudo até ao fim LOL, pode votar na sua composição favorita, que será acrescentada às imagens de "capa" deste blogue, usando as letras A, B, C, D e E.

2 de setembro de 2009

A Mandatária para a Juventude do PS

Dada a minha natureza apartidária e sentimento avesso ao diz que disse, não costumo comentar certas coisas, mas esta eheheheh, caiu-me tão bem no goto que me fartei de rir. Não é bem a pessoa mas é o contexto LOL!

Alguns dos meus amigos receberam anteontem um email que dizia qq coisa do género "apreciem o estilo". Se seguiram o link logo nesse dia poderão ter avaliado a beleza jovial e a profundidade das observações de uma jovem Mandatária para a Juventude do PS sobre si própria, bem como os seus elevados princípios... de competitividade... mas se consultaram ontem ou depois... nicles!O video foi apagado.

Fartei-me de rir com a pontaria de quem associou os dois discursos... ainda mais me ri quando vi que retiraram o video. Eheheheh! Terá alguém ficado atrapalhado? LOL! Situações destas, bom, só mesmo à gargalhada! De qq maneira tinha de ir verificar onde andaria o video, que não me agradam estes desaparecimentos, e afinal ele anda aí só que noutros sítios. Por exemplo podem vê-lo clicando no título desta mensagem onde pus a hiperligação. Ora apreciem bem eheheh! O que é que o quê diz de quem? LOL



Este excerto do Bartoon vem do Publico de anteontem.

29 de agosto de 2009

Festival Sons 09 - 4 a 6 de Setembro. Na aldeia de xisto de Janeiro de Cima

Em Janeiro de Cima, no Fundão... no primeiro fim de semana de Setembro...

Visitam-se Aldeias do Xisto, baila-se, toca-se, canta-se, tece-se, faz-se pão, passeia-se de barca no rio, ou de burro, ou a pé, ou de bicicleta, tomam-se banhocas ao sol, ouvem-se histórias, saboreiam-se pratos locais, pintam-se caretas, reutilizam-se objectos velhos, faz-se ioga, acampa-se, dorme-se, conversa-se, ri-se...

Vive-se a simplicidade do estar e do fazer, vive-se a natureza que não se esgota... e se renova!




Mais informações em:
http://www.rodobalho.com/sons/index.php

11 de agosto de 2009

Uma Dança

Juntos, aos passos lentos,
Dissolvidos na canção,
Enleando os movimentos,

Deslizamos pelo chão...
E rodopiamos, sem pensar,
Aconchegados num abraço,
ausentes de outro lugar,
Unidos em par,a compasso,
No movimento que descansa,
Na alma que acende em rubor,
Que evoca embalos de criança
e nos lembra o que é...
11.08.09

De regresso do Andanças, sobre o que é que eu poderia escrever? :)

31 de julho de 2009

Tropeção

Ups... 
em meio ao silêncio, só, de mão pendente, 
viu o corpo a desengonçar-se, por si, de repente. 

Ai... 
Compôs-se bem lesta, sem qualquer confusão, 
mas aquilo lembrou-lhe um'outra situação. 

Hum... 
E uma casual queda, uma cena irrisória, 
comichou-lhe de longe ideias na memória. 

Eh eh eh! 
De lá soltou o riso, em nervosa assentada, 
gargalhada sonora... a respeito de nada.

2009

17 de julho de 2009

Recado

Andava tão triste coitada 
com penas do seu só pesar 
que deixava as manhãs deitada, 
nas preguiças de acordar. 
A noite era rica e fecunda 
em viagens na imaginação, 
e enquanto dormia profunda 
passava-lhe a motivação.

Mas numa noite de insónia 
do que é que se pode lembrar: 
Se a noite forças lhe dava 
passava-as ao acordar. 
E como quem faz uma lista 
à noite escreveu-se um recado 
e deixou-o ao pé da vista 
num papelinho anotado. 

Logo o primeiro sono veio, 
com vontades de demora. 
Envolvendo-a sem receio 
de que despontasse a aurora. 
E erguida esta finalmente 
aliou-se a noite ao dia 
dois pólos na mesma corrente 
devolveram-lhe a energia. 

 01.07.06

17 de junho de 2009

Desinspiração classificada

Anúncio

Aspirante a escritora procura personagem fictícia para construção de história concreta. Intenções relativamente mais ou menos pouco duvidosas!

Pré-requisitos vagos e lassos a discutir por empatia. Dá-se preferência a contornos psicológicos bem delineados.

Respostas para qualquer jornal da minha preferência ou para esta entrada de blogue (eheheheh)

6 de junho de 2009

Rodobalho, CNM e RUC apresentam... Balharuco

Em vez de a toque de caixa, mas também com caixas que tocam, e cordas, e sopros, e vozes e teclas e... e... muitos passos em dança, acontece amanhã (já hoje), sábado dia 6, às 22h, no Centro Norton de Matos em Coimbra, o primeiro, o inimitável, o surpreendente e fabuloso(eheheh, já chega) BALHARUCO!

A prometer mais que promessas, certezas! Certezas da animação dos Endiabrados a Sete e dos Pés batendo a Terra, de um workshop orientado pela Gi e até de um Golpe de Estado em véspera de eleições (eheheh).

Sei que sou suspeita, e que com tanto adjectivo isto saiu em estilo publicitário LOL... mas estou mesmo em pulgas eheheh!




Encontramo-nos lá?


Duvidas ou mais informações sobre o Balharuco, vejam em www.rodobalho.com

28 de maio de 2009

Silêncios nos caminhos vermelhos

Ando silenciosa aqui no blogue, sim, silenciosa aqui e por aí... gozando as tardes vermelhas e as multicolores, na serenidade feliz de a quem o mundo enche e basta.

Sem palvras que me apeteçam, espero redimir-me com esta brincadeira de um destes dias.




A musica é o excerto inicial da 21 gramas dos Fol&Ar... se não conhecem vejam aqui: http://www.folear.com

14 de maio de 2009

GEFAC, pelos vistos hoje estou ali...

Pois pelos vistos eu hoje estou ali... ou aqui, decididamente estou lá, agora cá, depois ali... não aqui.

Bom, pelo menos bio-fisico-químicamente hei-de estar em algum lado, mesmo que existencialmente me distraia e não exercite o suposto erro de Descartes enunciado pelo Damásio e não esteja, exista em lado nenhum... mas isso não será hoje. Hoje hei-de deleitar-me com certeza em estar ali, lá, aqui...



Baralhados? Vão ver que promete (que eu já espreitei ensaios e estou em pulgas pelo resultado final)!

É no Covento de S. Francisco às 22h. Dias 14 (hoje) e 15 (amanhã) de Maio!

12 de maio de 2009

Dançando com Roncos e Curiscos... Mas o Colectivo chama-se RODOBALHO

O Portugal no Coração, programa estranhíssimo que nunca tinha visto... e continuo sem ver à excepção deste excerto (eheheh) passeou-se por Coimbra no fim de semana até, segundo consta, ter sido expulso pela chuva.



Sim, somos nós, ai ai ai, que este domingo fomos dançar com os belíssimos/as tocadores/as dos Roncos e Curiscos, por convite simpático deles... Depois lá meti a colher, mas de tão torta... esqueci-me de dizer o nome do colectivo! Dei a definição e o nome passou-se-me... ai tão tortinha Ana Bicazinha.

É Rodobalho pá! Rodobalho! Rodobalho! Rodobalho! O colectivo para a promoção das danças tradicionais em Coimbra chama-se Rodobalho!... Cara..*+#...mela!

http://www.rodobalho.com/

E as meninas até dançam quando não estão paradas eheheh! E os meninos e meninas até tocam e animam as hostes, LOL. Grande plano do Didjiridoo. Será que o cancelamento do programa teve alguma coisa a ver com esta dança e estes Roncadores do Curisco? A chuva... quero eu dizer... se calhar trocámos os passos e de um Pingacho fizemos uma Pingacha!!!

E ouviram bem que o Baião se engana e no fim diz os Roncos e Coristas???? Quem são as coristas, tá parvo?! Eh eh eh!

Cá vai a segunda musica tocada pelos Roncos e Curiscos:

5 de maio de 2009

Primavera

A conversa decorria fluída por sobre a erva verde-azul do fim de tarde quente e lassa. Braços e pernas pendidos na manta natural do solo, com cheiro a rio e a aragem fofa, marcada pelo grasnar de fileiras de patos e tonalidades de laranja em roxo. No meio das palavras, pontilhadas a silêncio do rumorejar brando das margens, ouviu-se dizer: Sim, é verdade que desejo o amor, mas por um qualquer artifício... pareço não querer encontrá-lo nos homens concretos e sim num plano qualquer de existência que nem se quer reconheço porque pelos vistos também não estou lá. Só então reparou que esmagava, misturando pétalas, flores brancas e azuis de espontaneidade e que efectivamente a primavera chegara sem avisar.

4 de maio de 2009

E quando não é amor?

Tantos e quantos e porque se escrevem continuados lençóis em versos de amor? 
Porque se verte costumeiramente sempre um e só tipo de emoção, ainda que derramado por sobre diferentes coxas? 
Não há mais sucos e odores por aí, para ter sempre e só que se cantar o Channel nº5? 

E quando não é amor? Não deve ser cantado 
O momento que vivido aconteceu? 
Que chegou do nada, sucedeu. 
Que de ponta à outra foi percorrido. 
Que pra nada vai, de já esgotado, 
passageiro e simples porque concluído. 

Sem necessidade de outras projecções, 
De lendas antigas ou castelos de fadas, 
De guerreiros em arco e poderosos dragões, 
de metáforas à pele de moiras encantadas. 
A realidade quente de pano deixado a cru, 
A simples pulsão de corpos buscando a nu... 

Não chega para ficar maravilhado? 
Então, quando não é amor, tem de se ficar calado? 

 04.05.09

9 de abril de 2009

Impressões de Viagem III

28 de Março de 2009

O mar enrolou-me na areia dos 30 anos em Lizard Point. 
Primeiro no topo de uma falésia a tomar café chilro e um Cornish Pastie, depois junto ao mar...

8 de abril de 2009

Impressões de Viagem II

Somerset, Devon e Cornwall (25 a 27 de Março)

Outro destino...
Com um sorriso, deixou-se na vida nova o amigo em pânico mental de ser assolado por multidões de Mozarts invadindo esquinas; e na cidade, a Pinakoteque que se queria ter visitado para além da porta fechada. Não se deixaram as visões de bicicletas, agora por outras ruas, uma entrou até na família pelas mãos de uma prima que recebeu um presente. A viagem correu-se em trânsitos de pés no chão, de pés no ar em voo, de carril, ou de quatro rodas... e nos dias seguintes com cheiro e vontade de quatro patas de ovelha ou pónei. Ficou só o cheiro.
-“Sei bem que tenho uma névoa de cigarro em volta. Afasta os mosquitos!”
Londres cheirou-se a Starbucks e depois a “bitter”. Londres solarenga de arranha-céus espelhados no fim de tarde, antes de conversas familiares na casa mais aziaga da Rua do Principe Negro, sem a presença do Harry Potter mas com a novidade do Watchmen em livro por companhia antes do filme.
Londres ficou para depois no lombo do transporte de aluguer. Uma meia de lã de conversas de caras antigas e novas foi-se tecendo aos poucos, a cinco agulhas; desfiada a ponta do novelo em refeições caseiras de pub de aldeia e pés molhados nas areias pretas de praias que um dia derrotaram invasões bretãs a golpe do povo.A vegetação densa cedeu como o dia e Darthmoor aproximou-se em mistério nocturno, perdida por estradas estreitas, onde contam as lendas já muitos não encontraram retorno.
“-In half a mile, turn left! In half a mile, turn left! Turn left! Turn left! Turn left!”
O cão dos Baskerville uivava o seu chamamento em voz digital mal compreendida, dirigindo os faróis até à porta de um celeiro, a estadia de repouso no meio da treva. O entusiasmo do insólito mistério. Animais patinhavam e resfolegavam mansos e surpresos, na quinta Burberrys, sem que acendessem a fogueira húmida para aquecimento das almas. A saliva revolvia-se nas papilas como reflexo de outro cão igualmente famoso até se resolver enchendo dos pratos as barrigas e do esforço crepitarem tons laranja.
O frio da pedra empedreceu ossos que custou aquecer no molhado da chuva. No molhado das pontes e dos círculos antigos de Grimspound. Cinzento. Casas, pedras, riachos e chuva, passeios na erva à procura de antanho e termos de chá quente e risos com biscoitos a renovar coragens para os engasgamentos do ponto morto do automóvel.
“- I am taking my license. Do you want me to drive?”
Um bigodinho de Poirot num episódio à beira mar, saltou de uma falésia no desejo de comer ostras. Ostras imaginadas e suculentas justificaram milhas, para ser impossível abri-las depois e partir à cata de um abrigo de lona para a noite. Sempre a chuva. Chuva e estrelas frias em botas más, acenando com os pés adeus aos vintes e comendo camarões fritos numa fofa alcatifa cor de laranja antes do deitar.

7 de abril de 2009

Impressões de Viagem I

Bicicletas, Mozarts e coisas Austro-Bávaras (21 a 24 de Março)

Uma vez avistados, os Alpes seguiram o comboio, nevados e agudos, serrilhados e a acrescentar sentidos à palavra Serra. Mirados de baixo, imponentes, ou em reflexo de lagos plácidos em espelho, ou torcidos nos rios turquesa do degelo. Pontilhavam-se de cedros e demais àrvores bicudas, a par de carvalhos caducos, em terras malhadas imitando as muitas vacas, entre o loiro-ruivo e o azeviche. Um azeviche verdadeiro visível em muitos montinhos da mesma cor.
"-São toupeiras!"
"- Eh, que aqui se alimentam gigantes!"
O quadro ao natural desenhou-se aos ziguezagues de volumes, bicos e cores!
Enormes janelas de corpo inteiro espiavam-se das ruas e dos trampolins nos quintais.
"-Oh! Trampoli-ins!"
Poucos prédios nas vilas, alguns nas cidades, numa vida a dois andares saída da confeitaria. Por baixo a massa fofa de tijolo burro, encimada pela cobertura a chocolate no triângulo de madeira dos quartos. Telhados de duas abas e imensíssimos quilómetros de painéis solares.
"-Olha, para além de pastores... será que ainda há lenhadores?"
Fizeram perguntar os arrumos completos de troncos de lenha cortada ao lado das pseudo-mini-quintas-quintais com barracas a lembrar casas de bonecas ou bungalows de férias.
"-Uma rede de descanso à saída de Salsburgo... à entrada de Munique."
Omnipresentes e sempre mais altos que toda a paisagem humana, exibiam-se os braços estendidos da reza nos pináculos de Igrejas e Catedrais, piramidais em topo fino de quase agulha, competindo em exercício de alongamento com o topo dos cedros que o homem ousou suplantar.
"- Os Americanos bem querem convencer toda a gente que os hamburguers são o prato mais comido no mundo. Mas não é verdade!"
"- Não me digas que queres outro Kebab?"

Salivaram-se as papilas no mercado, no degusto de sandes de queijos ou carnes várias, vegetais suculentos, crus ou grelhados em pães de inúmeras sementes e na "Weisse biere" do dizer de alguém, escorrida em várias goelas.
Um carrilhão espreitou da praça o clarão sonoro do espanto e palmas depois da espera, para que os cavaleiros se enfrentassem em justa até que um caísse e seguisse a dança sob arcadas de ramos. Alheio à dança, longe dali, um homem criava copos e borboletas de vidro na cor do fogo, rodeado pela ciência arrumada em muitas salas e espiado de perto por bisontes extintos de um tecto falso de Altamira.
-"Está a nevaaar!"
O vestido bávaro, cintado em corpete que poderia ser bordado mas era de lã preta e simples, repousou num saco dentro da mala, enquanto o céu cobriu a cidade de flocos, vestindo-a mansamente com as cores da noiva fria. Passos lentos bordariam todo o rendilhado complexo de histórias e vidas humanas no dia seguinte de um passeio à beira rio entre muitos.
- " Vê lá tu que, depois de tantas, hoje só vi uma bicicleta na rua e estava a ser metida dentro do metro"
-"É, isto é tudo muito plano, e chove, e gela... e escorrega! Mas pelo menos aqui ainda não vi nenhum Mozart."

22 de março de 2009

Serenidade

Um fumo brando e branco, 
De cigarro em ponta acesa, 
envolvido em volutas lentas 
Ao som do blues... 
O corpo respirado em pausa 
De solidão procurada 
Por saber bem estar-se por dentro 
A sós, 
Sem espera 
Sem mais procura 
Que a de ser-se Ali. 
Uma semi luz do fim do dia 
De alma cheia do que havia, 
A alimentar o momento. 
A lassidão despojada, 
Espojada no sofá, 
Confortada pelos braços, pela vida 
Sem expectativa. 
O repouso cadenciado, 
Inspirado e expirado sem noção. 
E não falta nada ao momento 
A sensação... o som, o fumo branco, azul do blues, 
a serenidade feliz. 


(14.11.08, Coimbra) 

13 de março de 2009

UniVerso nas noites de lua cheia


Hoje escolhi publicar na mensagem abaixo os "Ventos Universais", ou os "Ventos do amor Universal"... porque me lembrei dele quando me apeteceu escrever aqui sobre os encontros UniVerso, nas noites de lua cheia cá em Coimbra na Galería Ícone (Pátio da Inquisição). Vejam http://universocirculo.blogspot.com/

Estes encontros começaram há muito pouco tempo, esta 4a feira foi o terceiro. São encontros de partilha, de poemas e textos, pessoais ou de autores, lidos em círculo ao ritmo improvisado e próprio de cada um! Gerando conversas ou silêncios... Cadências de linguagens, imagens e emoções... no conforto sereno do círculo, e às tantas um dedinho de vinho do Porto surgiu para aclarar gargantas.

Esta quarta feira enrolaram-se e desenrolaram-se poemas cortados e lidos de um fio, leram-se poemas pintando narizes, e outros poemas, e prosas de vários autores, e poemas e contos pessoais... um conto que terminava com imensos vegetais à volta de uma fogueira!!! E a frase que às vezes surgia no final de uma leitura: "Não queres repetir?"

Eu quero certamente! Na próxima lua cheia...

Ventos do Amor Universal no Ciberespaço


- Vou fugir.
- Foge, foge…
Vem ao topo do castelo,
onde o meu tubo amarelo,
solta bolhas de sabão.
Segue-lhes a direcção.
Saem vivas, diminutas,
Atrevidas, voam soltas
ou rebentam-se no chão.


Miríades de arco-íris rubicundo,
elevadas no ar, e dispersas p’lo mundo.
Mas sopra-se o vento suão,
e elas não chegam a Portimão.

- E a Albufeira?
Serão capazes, poderão?

- Talvez uma se perca pela beira,
De um fio de ar que subiu,
E assim elevada consiga
Encontrar quem o pediu.

- Onde? Onde?

- Às cinco da tarde à direita,
Se mirares na brisa estreita,
No topo da rocha maior,
Talvez te brilhe ao redor,
Uma bola pequenina,
Rodada de saia menina,
dançando de súbita cor.



Nota: Este texto merece uma nota pela experiência gira que foi dialogá-lo. Surgiu no msn, num dia de parvoeira mental em conversa com o dono do http://www.martelodaletra.blogspot.com/. Na altura, em 2008, eu não tinha blogue e foi publicado lá. Hoje tenho e quero-o aqui junto aos outros eheheh. Fica o vento universal a bater dos dois lados eheheh e a dispersar as bolas de sabão.

8 de março de 2009

Maria

Só mais, 
Mais uma manhã de muitas, 
madrugada. 
Mais uma que é fresca de ar e de sono carregada. 
Com a bata ao peito… 
A touca apertada… 
Assim a Maria, começava o dia, abrindo a esplanada. 

Em vagas, 
Em grupos de alguns, 
ou então, isolados. 
Chegavam dos bares nocturnos vultos esfumados. 
Alguns resistentes… 
Bêbados e parvalhões… 
Eram eles os primeiros, os raios de luz, de olhos cavados. 

As mãos 
Sem muito a medir e os pés 
Sempre alerta. 
Reagem sem tempo a perder e a cabeça desperta. 
Numerar os cafés… 
Controlar as torradas… 
Separar dois tipos, ouvir uns piropos, levá-los à certa. 

Depois, 
da vaga e do entra e sai 
Continua. 
Conversa com uns entre risos e às vezes amua. 
As queixas dos clientes... 
E depois do patrão... 
Esvai-se lhe a paciência, já no fim do dia, quando volta à rua. 

As contas, 
Fechadas por fim já sem 
Energia... 
Que dispersa por tanta outra gente, desaparecia. 
No regresso a casa... 
seguia extenuada... 
Maria vivia, deixava-se inteira, na pastelaria.

(15.04.07) 

4 de março de 2009

Estendal de amores

Como de hábito e de ensino 
também ela colocou 
toda a sua roupa suja 
no tanque velho, e lavada, 
toda a sua roupa agora, 
no estendal dependurada.

Como de hábito e de ensino 
também ela se entregou 
toda inteira, verdadeira, 
a um homem, mas passada, 
toda inteira e verdadeira, 
não se viu emparelhada. 

Como de hábito e de ensino 
seria por certo falada, 
mas os tempos são hoje outros, 
a vida está… muito mudada. 
Com hábito e ensino trocado 
ninguém está muito importado. 

Mas mesmo com toda a mudança 
não se muda o que é vivido. 
E estende-se ao sol, que clareie, 
a mancha… que não se lavou. 
E estende-se ao sol, que clareie, 
a nódoa negra que ficou. 
 22.02.07

3 de março de 2009

Bailarina

De pé em arco, sem sombrinha, 
inspirada por alma de artista, 
mas sem saber bem ao que vinha, 
a bailarina equilibrista, 
em traje da mais fina malha, 
qual fio de prumo, a rigor, 
pousou-se no fio da navalha, 
disposta a lançar-se no amor.












Mirou risonha, pendente do céu, 
a razão dos suspiros... e estremeceu. 
Pois mal ele olhou, e ela lhe sorriu, 
o mundo inteirinho, apagou-se e fugiu. 
Ficou-se a verdade, simples e desnudada, 
de desejo exposto na face rosada. 
E lançou-se ao ar, na ronda do vento, 
de braços abertos, com um novo alento. 

Balança o baloiço, que se exibe e mostra, 
ele que aprecie, que veja se gosta. 
O prumo, o rigor, a arte flexível 
a cadência elegante do esforço invisível. 
Ele anui que sim, que é bela a dança, 
mas de pescoço torto, tão logo se cansa. 
Ora a bailarina, sem esperar por nada, 
depressa tropeça desengonçada... 

E sem rede ou apoio, a que se agarrar... 
tragou-se no gume, deixando de amar.
 
Iniciado em 2007... concluído em 2009

2 de março de 2009

Sonolência

Um ténue calor de conforto
Refluiu em vagas quentes,
crescentes,
a hora imprópria...
descendo dos ombros à base da coluna,
num estremecimento,
aterrando pesado no centro estomacal.
A digestão.

Hum... suspirou-se o gemido
Em onomatopeias da vontade...
De ceder ao corpo e fechar um olho,
Pesado, e fechar os dois,
Sentir o negro calmo da batida,
O coração.
Tum-tum, Tum-tum,
Ritmado, convidativo.
Mas negá–lo e agitar um calafrio
A despertar!

Prender as pálpebras à existência luminosa.
Não ceder, não adormecer!
O peso de toneladas
Firmado na gravidade muscular.
Os olhos a bater em par ao par do tempo
E a impossibilidade de formar mais raciocínios
Um canto aninhado e...
Humhum,
Tum-tum, Tum-tum,
Silêncio.

02.03.09

27 de fevereiro de 2009

The rain in spain stays mainly in the plain...




Uma vez que ainda ando às voltas com isto e ficou pequenino... cliquem na imagem para ler a BD. Alguém sabe como é que eu posso aumentar a imagem?

Imagem retirada de http://www.gocomics.com/

24 de fevereiro de 2009

Fui à guerra

Fui 
Um dia fui para a guerra e estive lá. 
Tomou-me vinda de fora, 
nos estertores das armas, 
nas pernas brutas correndo montanhas, 
nos punhos fechados que puxam e nos abertos que empurram, 
no aço frio que corta a gume, mais que a bala, 
na urgência de agir em silêncio e de imediato antes do grito. 
Fui correndo ao medo, para o medo... 
E ela possuiu-me, tendo-a eu possuído. 

Tive a guerra. 
Tive a guerra dentro do peito a toda a hora, 
encerrada e expelida às golfadas ao rufar dos tambores. 
Ansiosa a romper as entranhas, desvairada, contorcida, 
Reactiva até aos silêncios, que a pouco e pouco desapareceram. 
O rugir. O clamor que tomou conta dos membros, 
Até que deixasse de ser possível imobilizá-los jamais, 
Pará-los do perpétuo movimento, um instantinho que fosse, 
Para descanso. 

Doí-me da guerra. 
Doí-me da guerra histérica e cansada sem saber como soltá-la, 
Como desprender-lhe os cheiros dos cabelos e raspar a fuligem da pele. 
Soldado recrutado por dentro, sem direito a licensas nos momentos mortos, 
sem hipóteses de deserção. 
Consumida no desvario do hábito reactivo aos vislumbres de dor, 
de orgulho, poder, impotência e pranto. 
Sem mapa ou outro mundo para onde pudesse fugir, 
Carregando por todo o lado a caixa das munições, 
Sempre pronta a disparar. 

Porquê? 
Não lembro inícios ou porquês explicados. 
A minha origem da guerra... É que fui, estive e estou lá. 
É que a tive e tenho... e que me doí histérica. 
Os hurros, a exaustão, as munições em permanência, 
Os gestos hábeis, reconstruindo as memórias do corpo, 
Condicionaram o que o passado foi... e é só presente que resta. 
Reagindo a seco, de ofensa em ofensa, sem cessar fogo. 
No entanto, por entre os clarões do fundo da alma... 
o paradoxo é que... Subjacente à força da guerra... 
o desejo profundo é de paz. 
R.I.P. 


(24.09.08, Coimbra)

Grito de Guerra

Que venha a força… 
de percorrer o mundo em grito! 
Com a guerra nos braços e no músculo do coração! 
Com a guerra que não mata, 
com a guerra que constrói e luta, 
independentemente das conotações das palavras, 
independentemente dos julgamentos de valor! 
Há paredes a derrubar e paredes a erguer, 
se nos casebres nos entra o frio e a chuva! 
Há árvores a abater e florestas a plantar, 
se o clima e as gentes a não completam! 
Há conceitos a partir e ideias a criar, 
se os valores se agitam dentro dos sistemas! 
Há estalos a distribuir e beijos a partilhar, 
se os espaços se tocam e não se são indiferentes! 
Com a guerra nos braços e no músculo do coração, 
já não há Amazonas, nos entretantos do devir, 
mas há auroras vermelhas que pedem resolução! 
Chega de palavras! 
Que venha a guerra na sua onomatopeia bruta! 
Soem clarins e tambores! 
Que eu grito e… fui! 

(06.06.06, Coimbra) 

Vassoura

Vassoura

Varre… 
Varre bem! 
Que uma mulher deve aprender a varrer. 
Varre os lixos, as louças, 
varre os laços. 
Varre a cozinha, os cantos, 
varre os cacos. 
Varre os sentidos, as saudades, 
varre os sonhos. 

Varre tudo para debaixo do tapete. 
Para um dia ao levantares as pontas 
recordares a porcaria que juntaste! 

(21.10.96, Gouveia) 

23 de fevereiro de 2009

Barriga

Vi-te 
Agarravas-te à barriga 
Como quem lhe dói e se concentra cansado 
Agarravas-te à barriga, no canto da sala mais escura, entre as mãos. 
Entre todas as mãos agitadas e entre as tuas. 
Encolhido, submerso no canto mais escuro 
Engolido como quem se ausenta. 
Esporadicamente, chegavam perguntas do teu estado. 
O anonimato não salva ninguém das preocupações humanas. 
E ainda dizem que ninguém se importa. 
Que sim - exigiam resposta - que sim que estavas bem. 
Que as indisposições são simples e passageiras. 
O pranto corrido em vertigem, mascarado de biologia. 
Desculpas! 
Quando os olhos secam 
Resta-nos o pranto rasgado do interior. 
Vertias as águas em sangues e sucos pelas paredes. 
Reconheci-a quando te vi, a encenação protectora. 
Mas estavas nu por trás das mãos, no pudor invisível do escorrer das dores. 
As entranhas não se revolvem apenas em digestões. 
Como tu, também procuro o seu espaço redondo e quente para chorar. 

(15.04.07, Coimbra) 

Oh e se eu criasse um blogue?

Ai que medo que eu tinha e tenho disto... mais um espaço de visibilidade na era da imagem, da exposição e julgamento de valores global! A multiplicidade à grande escala pode ser fecunda mas mete um "respeitinho do caraças". Ainda por cima através da escrita... ui, ui, ui. Ou isto me absorve e não saio daqui ou sou é capaz de não voltar cá eheheh. Mas como também tenho curiosidade para ver o que me sairá daqui... siga! Junto-me ao fluxo da participação internauta activa e começo com este post de duvidas e intenções. Para quem se fala num blogue? Assumem-se temas, variam-se? Torna-se confessional, informativo, discursivo, selectivo, discutivo? Há tantos blogues por aí que vou visitando... Este não pode ser temático-informativo porque a modos que não tenho um tema sobre o qual me apeteça informar os outros, vocês, neste caso ainda só a tela do computador... assim, parece-me que acabará por ser... se for... um discorrer de dias e o que a eles lhes bem aprouver. O típico e sempre mais ou menos blog-pessoal. Bem e o "Diz... Farsa", vem-me de ser véspera de Carnaval ! Um nome que Diz letras e Não Diz coisa nenhuma. Que me descobre e disfarça... que pela farsa encerra historias e operetas, verdades e engodos, luzes e sombras... Achado num dia com tempo para revisitar as máscaras guardadas e tirar-lhes o pó, despir "cagufas" encapotados, diz...farsar essa "miufa" e sair à rua de cabeçudo sobre os ombros, a equilibrar-me nas andas e a atirar ovos, farinha, serpentinas e papelinhos, ao som de bombinhas a estrelicar, cornetins e línguas da sogra! Pois bem, caro blogue... eu e tu, cá vamos nós!

Ver também: Confissão sobre

Destaques

Feriado

O tempo livre da manhã cedo ping a do beirado alaranjado  de telhas de meia cana ping a  porque molha tolos por entre o café quente do feria...